segunda-feira, junho 28, 2010

A história de Stória, Stória

Perdeu-se porque tinha memórias demais. Foram elas carregadas um dia por vaga-lumes e sumiram dentre as estrelas. Pensava que seria solução.

Depois disso, perdeu-se de novo, não tinha lembranças nem caminho. Contou as aveias do chão. E passou a fazer bolinhas de areia. Quase um castelo.



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quarta-feira, junho 23, 2010

Ligamento cruzado posterior

Quando os pensamentos marrons invadiram a caixa cerebral de Martin, ele estava lendo um gibi traduzido. Não acontecia muita coisa na narrativa e as ilustrações eram medíocres. Nem ele sabia o porquê de ter escolhido aquela edição. Talvez fosse efeito das letras, já que Martin colecionava tipografias.

Às vezes ele ficava horas alisando as palavras impressas. Às vezes conversava com as vírgulas e duvidava do poder do ponto. Às vezes cantarolava-as como se melodia fosse fácil de sair da boca que nem sílaba oxítona.

Quando os pensamentos marrons invadiram a caixa cerebral de Martin, ele também estava coçando o joelho. Porque o joelho era seu lugar preferido. Com ele, podia dobrar-se. Podia articular-se.

E era do joelho que ele tirava água de pensamento, como quem tira goteira de lâmpada. Às vezes os pelinhos encravavam, às vezes a pele engrossava. Mas toda vez que ele colocava os dedos quentes sobre a rótula, uma coisinha de cor saía da tíbia. O que conectava seu fêmur também caía sobre o chão. E alguém pisava ou alguém coletava. Mas sempre, como se sempre fosse um tempo em reticências, ele sentia uma pancadinha perto de menisco e sua perna levantava automática.

Continuamente, ele achava engraçado.



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segunda-feira, junho 21, 2010

Ribeiro

Era um chão de terra daqueles secos. Sem sinal de pluviosidade. O mato era ferrugem, sem formigas. Giordana Naville beijou o solo. Sua saliva misturou-se com o terreno e ela mastigou como se pudesse alimentar-se.

Da terra surgiu e da terra ela iria embora. Mas não nos dias longos sem sol. Não nos dias onde a lua tinha menos dentes que outrora.

As mãos eram as mesmas. Os olhos ainda piscavam. Mas o coração havia sido arrancado. Uns dizem que havia sido picotado com faca Tramontina. Outros que ele havia sido degustado em banquete histórico.

Se eu tivesse um coração, ela pensava, poderia comê-lo.

Mas há tempos que ela não ouvia batidas, só toques opacos. Alguém ao longe, caminhou. Ribeiro trazia cabelos. Queria presenteá-la com bulbos. Com unhas. Com pelos encravados. Respirava ar quente úmido de quem tem os pés de Peixes.

Ela farejou primeiro os pelos. Depois as unhas. Os cabelos tinham uma fragrância de sangue. Seco. Denso. Grosso. Provavelmente arrancados a menos de uma hora.

O coração palpitava. Uma vez forte. Outra vez fortíssimo. Giordana tinha nos ouvidos uma intensidade de soprano. Um tempo parado. Um pensamento torto incontrolável.

Ainda havia terra em sua boca quando ela levantou a cabeça e mirou o imo de Ribeiro. Dizem que ataques violentos não necessitam de piscadas. Que o cérebro consegue controlar cada pedaço do corpo que se move.

Ribeiro só sentiu quando a veia rompeu-se. Ele tinha acabado de engolir sua própria saliva, pois estar perto dela secava a garganta. Ele piscou e dizem que viu seu coração ser engolido de uma vez só. Aí ele caiu e da gengiva dela caninos cresceram bem devagar até todo o sangue ser drenado.

Giordana Naville. 23 anos. Vampira.



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domingo, junho 20, 2010

Waves and raves

- A tempest is coming, she said.
- Yes, he replied.
- Cover your head, she whispered.

And then hedgehogs fell. And then the lights went off.

- What shall avail us now? he asked.
- Let the dreams in, she answered.

And at that moment time traveled to mourn.



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quinta-feira, junho 17, 2010

Autoconhecimento

Havia adesivos no porta malas de trás. Estude e trabalhe, era o que meu pai dizia. Estude e trabalhe. Eu nunca estudei. Nem trabalhei. Era poeta morto do mundo.

E como todo poeta morto, eu dissecava corpos. De animais. Porque queria aprender a enxergar por dentro. A descobrir quem eu era na vida passada. Não que isso fizesse muita diferença, mas pelo menos eu teria algo a falar. Porque como todo poeta morto do mundo, eu não tinha mais palavras.

Eu sabia dirigir. Sabia manobrar, frear, acelerar. Ver as coisas passando por janelas empoeiradas. Sabia identificar com rapidez placas e ruas esquecidas. Sabia que as ruas de lama eram menos traiçoeiras que asfaltos polidos. E como todo poeta morto do mundo, eu não sabia para onde ir.

Quando a estrada forçou minha retina naquele fim de mundo lá no canto esquerdo de outrora, um animal apareceu no meio dela. Alto. Grande. Com pelos mesclados e bocarra fétida. Alguns diziam que era um monstro. Outros que era uma anomalia genética. Eu, como todo poeta morto do mundo, saquei meu mosquete e disse: Venha!

A coisa arregalou os olhos e vi que seus dentes tinham tártaro pré-histórico. Aí ele grunhiu como se eu fosse o maior predador do mundo. Eu não gelei, mas uma gota de suor brotou bem no canto de minha orelha.

A bala passou pelo cano de 1 metro e meio sobre a culatra de madeira e atingiu bem o meio dos tantos olhos. Cheguei perto e abri o cérebro com um resto de pólvora. Havia umas gosmas e uns animaizinhos flutuantes. Enrosquei o cano lá dentro para ver melhor. Droga! O sangue me revelava. Eu era um masturbador de porco.



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segunda-feira, junho 14, 2010

Fim dos dias

Quando os alienígenas invadiram a Terra, eles não usaram rádio nem invadiram corpos. Eles twitaram que a última hora da humanidade seria um jogo entre o país de Belize e a colônia Conchichina. Em prol do pandemônio, cornetas foram compradas no Mercado Livre.



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sexta-feira, junho 11, 2010

metatarsiano

Dentro do ônibus:

Ele1: - Tem um negócio no seu chinelo.
Ele2: - É.
Ele1: - É vômito?
Ele2: - Não.
Ele1: - É cuspe?
Ele2: - Não.
Ele1: - É contagioso?
Ele2: - Não, porra. Eu tenho joanete.



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quinta-feira, junho 10, 2010

...

E quando acordou descobriu que não era mais gente. Era agente. E ganharia um milhão de serpentinas se vendesse a alma. Então ficou a pensar. Horas. Dias. Tempo. E ninguém descobriu o resultado da decisão por uma eternidade e meia.



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quarta-feira, junho 09, 2010

Seleção natural

Na trilha de areia um braço foi jogado além. Depois um pulso e logo em seguida um cotovelo. Corina comia ardentemente a pele. E incansavelmente sugava a gordura que jorrava entre o abdômen e o músculo.

Havia um círculo parecendo uma pulseira de neon. Estava parado. Dentro dele não havia nada além de emoções humanas jogadas. Quebradas.

Quando Corina acabava de comer, ela pegava o círculo e o jogava em alta velocidade como se fosse algum jogo de arremesso. Depois saia saltitando com os dentes sujos e a garganta ardendo por ingerir muito rápido.

O sol brilhava e havia flores e amendoim atirados.



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terça-feira, junho 08, 2010

Declive abaixo

E se o Universo fosse pontilhado? O mundo acabaria? E se no fundo dali houvesse o tempo em reticências? Haveria coisas embaralhadas?

Gahel pensava nas coisas balançando o pé. Havia vento verde-claro, daqueles que sacodem folhas como se elas fossem transparentes. Havia cheiro marrom escuro, daquele que coça a ponta do nariz como se fosse alergia passageira. Havia o som azul celeste, daquele que talha o som como ponto e vírgula. E havia o declive abaixo.

As coisas que pensava eram coisas abstratas. Coisas feitas de imagens pixeladas, em formato vga, em tempo pausado. Eram coisas roubadas de ouvido. Roubar de ouvido era um hobby. Você ouvia, mastigava e ficava tanto tempo com aquilo debaixo da língua, que já achava que o que outrora era de outro, fazia parte do sabor de seu próprio cuspe.

Ela não aparava dores nem abria caminho porque achava que inspiração vinha em cavalgadas de porco. Porque os seus porcos tinham pés de cavalo e seus cavalos tinham dentes de porco. E ela odiava cavalos e porcos.

Aquele pé que ela balançava a fazia lembrar de coisas que ninguém havia visto. Eram coisas que estavam entre pendências. Plastificadas e mimeografadas em tintas velhas. Eram coisas de coisas triplicadas por coisas ao quadrado.

Se o Universo fosse pontilhado, ela não teria água. Se no fundo dali houvesse o tempo em reticências não haveria o céu azul de hoje. E as coisas embaralhadas que levava o sono não era sinal do mundo acabar. Eram coisas das cartas de baralho que cismavam em ser enfileiradas. Vira e mexe elas cortavam o dedo só para que se libertassem o sangue.



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segunda-feira, junho 07, 2010

301º

Era o som das letras brancas que sacudiam a eternidade. E quando o ponto de interrogação questionou o de exclamação, ele respondeu: Hoje lembrei de você, mas aí isso já seria coisa de reticências, né?



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domingo, junho 06, 2010

Conversa via skype:

1. Não quero twitter.

2. Você já não tem Orkut, nem Facebook, nem Buzz nem doa um dólar para aquela banda do Youtube, você quer acabar com a economia do mundo?

1. Eu sou cego.

2. Ah bem!



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sábado, junho 05, 2010

As folhas

E o inverno levou as folhas. E as rodopiou e as colocou entre o estado de não dormir e não acordar. E as folhas envelheceram, trocaram de cores e quando às vezes o vento as sacode, elas se lembram que um dia foram verdes e que entre suas ramificações havia um buraco que mostrava mais um inverno e mais outras folhas. Das lendas e dos sopros, as pessoas só se recordam dos galhinhos ressecados.



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terça-feira, junho 01, 2010

Conversa entre 2 piolhos

Piolho 1: - Ai, eu não sabia que cabelo doía, mas dói.
Piolho 2: - Você é você como o nome de alguém.
Piolho 1: - É.
Piolho 2: - É.
Piolho 1: - Quer ir dar mais uma chupadinha?
Piolho 2: - Duas.
Piolho 1: - Ok, parou de doer?
Piolho 2: - Não, mas pelo menos adocicou.



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